Hoje seria uma data de comemoração. A comemoração do Dia Nacional da Saúde. Uma data em referência ao nascimento de Oswaldo Cruz, um cientista que tinha a saúde pública como missão civilizatória. Uma saúde baseada na ciência aplicada ao bem comum. Uma ciência que deveria estar à altura das maiores potências mundiais.
Entretanto, temos pouco a comemorar. Hoje é um dia de luta. A Saúde passa por uma das mais graves crises de sua história. A situação da saúde é hoje a expressão mais contundente dos efeitos perversos do descaso, da incúria, da corrupção, da mentira, do negacionismo e do abandono da população.
É na saúde que estão postas abertamente grande parte de nossas fragilidades. É na saúde que estão desvendadas toda a incapacidade das políticas econômicas até aqui implementadas de nos conduzir a uma sociedade civilizada e harmônica. É na saúde que estão colocadas a céu aberto as vísceras de uma história de concentração de renda, de desigualdade e destruição de nossa capacidade pessoal e institucional de reagir.
O país que não integrou aqueles que foram escravizados e seus descendentes nos marcos da cidadania, é o mesmo que, apesar das dimensões continentais, negou, e ainda nega, terra a quem nela trabalha. O país que bate recordes de produção de grãos, é o mesmo que convive com o espetáculo dantesco da fome.
O Brasil vem se transformando naquilo que alguns economistas chamam de “fazendão”. Um empreendimento exportador de commodities, habitado por um povo abandonado à própria sorte, sem acesso aos benefícios da civilização e exposto a todo tipo de violências.
Uma tragédia expressa em números estarrecedores. São mais de 550 mil mortos por covid-19; cerca de 130 mil órfãos; aproximadamente 15 milhões de desempregados, 6 milhões de desalentados, 40 milhões de informais, 63 milhões de negativados no SPC-Serasa, 118 milhões em situação de insegurança alimentar; 19 milhões de famintos e centenas de milhares de famílias em situação de rua.
A reforma administrativa é a expressão do abandono da população à própria sorte. É a tomada do Estado pelos interesses espúrios denunciados pela CPI da Pandemia. Está tudo errado. Precisamos mudar o rumo que nos trouxe à essa tragédia: o pior governo, para o pior momento. Precisamos escolher e construir novos caminhos.
Definitivamente o Brasil não tem sido mãe gentil para os seus filhos. É hora de mudar o rumo. É hora de fora Bolsonaro e Paulo Guedes. É hora de derrotar o fascismo e as políticas neoliberais. É hora de ocupar as ruas. É hora de construir o país desejado, com cidadania, soberania, sustentabilidade, oportunidades iguais e dignidade para todos.
Somos linha de frente. Somos Fiocruz. Somos SUS.
Brasília, 5 de agosto de 2021
Diretoria Executiva da Asfoc-SN