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Que país será este? Reconstruindo e construindo agendas e trajetórias

A Asfoc-SN participou hoje (03/09) da live em comemoração aos 67 anos da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) Sergio Arouca. Durante o evento digital, a presidente do Sindicato, Mychelle Alves, leu um editorial da Diretoria Executiva Nacional, “Que país será este? Reconstruindo e construindo agendas e trajetórias”.

No início do texto, Mychelle fala sobre os desafios expressos no tema geral do evento que nos indaga: que país será este? “Como presidente da Asfoc-SN e como mulher negra de origem pobre, digo que nossa resposta deve começar por refletir sobre o país que queremos”, destacou.

O documento ressalta ainda a importância do Estado como instrumento de um processo civilizatório. “Um Estado que não seja apenas um balcão de negócios de segmentos econômicos privilegiados. Segmentos predadores que parasitam a riqueza coletivamente construída. Queremos um Estado que não estabeleça diferenças entre etnias, mas que repare injustiças. Um Estado laico, protetor da liberdade religiosa e da diversidade de orientação sexual. Um Estado que atenda aos interesses da maioria e não negligencie as demandas das minorias. Um Estado provedor de educação, saúde, segurança e seguridade social de qualidade”.

No trecho final, o editorial informa também que é sob o signo da sustentabilidade, da democracia e de um pacto intergeracional que devemos erguer o objeto dos nossos sonhos. “Precisamos mais do que nunca defender a democracia como alicerce da construção que queremos erguer”.

Confira abaixo a íntegra do documento:

Bom dia a todas e todos! É um prazer participar dessa solenidade que comemora os 67 anos da nossa querida ENSP. Um aniversário que estamos comemorando com muita alegria e com plena consciência dos desafios que nos aguardam. Desafios expressos no tema geral desse evento que nos indaga: que país será este?

Como presidente da Asfoc-SN e como mulher negra de origem pobre, digo que nossa resposta deve começar por refletir sobre o país que queremos.

Não somos meros expectadores da realidade. Somos construtores do mundo que queremos viver. Construtores que enfrentam os intolerantes, os conservadores, os preconceituosos, os exploradores, os inimigos do novo, os inimigos de uma ordem social inclusiva, sustentável e soberana. Construtores que enfrentam inimigos poderosos. Construtores por vezes derrotados, mas, ainda assim, construtores.

Para falar de reconstrução, lembramos aqui o Museu Nacional, a Cinemateca Brasileira, a Fundação Palmares, os Ministérios da Saúde e da Educação. Lembramos da estrutura de ciência e tecnologia. Da Capes, do CNPq e de uma série de outras construções que perdemos nos últimos anos. Lembramos também dos biomas destruídos pela irresponsabilidade e pela ação criminosa das queimadas, dos agrotóxicos, do garimpo ilegal e do rompimento de barragens. Lembramos da necessidade do reflorestamento e da recuperação de áreas degradadas. Vamos falar do passado e do presente com o olhar no futuro.

Nós, da Asfoc-SN, temos consciência do passivo histórico que o país precisa resolver e superar. Acreditamos que mesmo os momentos bons que tivemos, e certamente tivemos, também devem ser superados no sentido de aprofundar e alargar nossos acertos.

Nosso país se construiu em cima de massacres. Massacres cultuados em estátuas de Borba Gatos. Vivemos em um país que massacrou e negou tudo aos povos originários e àqueles que para aqui vieram escravizados. Um país que também negou tudo para os filhos da pobreza que para cá vieram tentar a sorte como migrantes. Negou tudo para aqueles que construíram esse país. Um país que negou tudo para os descendentes dessas populações. Nada nos foi dado. Tudo que temos é fruto de lutas desiguais travadas durante séculos.

Definitivamente não vemos nada de bom no conservadorismo. Conservar o quê? O estado de beligerância e exploração que marcou nossa história? Não! Nada disso! Queremos o novo! Nós queremos um país que não está no retrato!

Um país que garanta o mínimo de cidadania para todos, ou seja: correção das injustiças históricas, respeito ao meio ambiente, oportunidades iguais e vida digna para todos. Uma vida alegre, harmônica, saudável e capaz de realizar plenamente as suas potencialidades. Um país plural.

Nossos desafios são imensos. Mas também é grande a nossa disposição.

Queremos ressaltar a importância do Estado como instrumento de um processo civilizatório. Um Estado que não seja apenas um balcão de negócios de segmentos econômicos privilegiados. Segmentos predadores que parasitam a riqueza coletivamente construída. Queremos um Estado que não estabeleça diferenças entre etnias, mas que repare injustiças. Um Estado laico, protetor da liberdade religiosa e da diversidade de orientação sexual. Um Estado que atenda aos interesses da maioria e não negligencie as demandas das minorias. Um Estado provedor de educação, saúde, segurança e seguridade social de qualidade.

Nos preocupa a evasão escolar, a exclusão digital, o apagão de capacitação profissional. Queremos uma sociedade solidária e culta. Uma sociedade que se sinta implicada diante dos problemas sociais e da degradação ambiental. Uma sociedade presente. Uma sociedade cidadã. Uma sociedade das luzes.

Queremos aquilo que temos direito. Gente é para brilhar e não morrer de fome. Gente é para conhecer o mundo não para cultuar a mediocridade e o charlatanismo.

Para alcançar sucesso no nosso desejo precisamos começar já. Começar lutando contra um mundo distópico, triste, vazio e demagógico que nos ameaça com o seu arsenal de mentiras e manipulações. Com seus robôs que inundam as redes sociais de sujeira. Precisamos defender o bom senso, a ciência e o debate no lugar das disputas de narrativas. Precisamos defender a política com P maiúsculo em oposição à selvageria.

Não somos um monte de eus atomizados. Apesar de reconhecer as singularidades, não valorizamos o individualismo. Somos a expressão de um grande nós. Somos “o pessoal dos direitos humanos”. Somos guardiães das águas e das matas. Um nós que inclui os outros seres com quem dividimos o planeta. Um nós que inclui nossos antepassados e as gerações que estão por vir. É sob o signo da sustentabilidade, da democracia e de um pacto intergeracional que devemos erguer o objeto dos nossos sonhos.

Precisamos mais do que nunca defender a democracia como alicerce da construção que queremos erguer.

Por último, queremos sempre marcar a presença de Luis Fernando, Adauto, Sergio Arouca e Antonio Ivo. Companheiros presentes!!!!

Somos a Asfoc-SN, somos Fiocruz, somos SUS. Somos parte da classe trabalhadora desse país. Somos construtores do Brasil.

Diretoria Executiva Nacional da Asfoc-SN

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