A Asfoc-SN vem a público manifestar a sua profunda preocupação e completo desagrado com relação ao total descaso como a pandemia vem sendo tratada em nosso país. Estamos assistindo a um verdadeiro colapso do sistema de saúde. Um colapso fruto da incúria e da forma nada criteriosa como as autoridades dos três níveis de governo estão lidando com a Covid-19 desde sua chegada ao país. Atitudes negacionistas, censura, propaganda de remédios e tratamentos sem comprovação de eficiência, politização e ideologização em relação à vacina e seus fabricantes marcam um quadro estarrecedor que já vitimou aproximadamente 180 mil pessoas. Vidas que poderiam ter sido poupadas pela implementação de políticas públicas que, era de se esperar, fossem articuladas nacionalmente pelo presidente da República.
No Rio de Janeiro atingimos recordes de letalidade. Em praticamente todos os estados e municípios da federação a situação se agrava sem que seja possível esconder a falta de preparo das autoridades para responder a situação. Não temos plano de vacinação; não temos recursos financeiros; não temos os equipamentos necessários; não temos pessoal suficiente; não temos um norte. Estamos em um voo cego. Temos um estoque imenso de cloroquina e atitudes contra o SUS e seus programas. O país está isolado e correndo atabalhoadamente atrás de uma aquisição emergencial de vacinas que já deveria estar prevista e negociada com a antecedência necessária, caso fosse outra a forma de lidar com a maior emergência sanitária de nossa história. Sabíamos que precisaríamos de mais de um tipo de vacina.
Nem a saúde, nem a economia parecem mobilizar as atenções do governo federal no momento. A atenção está voltada para a política, para a sucessão das presidências do Senado e da Câmara dos Deputados.
Enquanto isso, somos surpreendidos por uma inauguração de uma exposição estapafúrdia de gosto e propósitos duvidosos de trajes usados na posse do presidente, por ataques ao programa de atenção básica, de DST-AIDS, as políticas de saúde mental ou pela extinção das tarifas para importação de armas. O Brasil não merece isso.
Estamos totalmente dependentes dos verdadeiros heróis anônimos que integram a linha de frente. Gente que de fato enfrenta uma guerra e sem as armas necessárias para se defender. Gente que sabe dos riscos e tem se apresentado cotidianamente na frente de batalha. Gente que sucumbiu e que deveria ter o respeito do Estado Brasileiro. Esses, sim, merecem medalhas e pensões para os filhos dos que que tombaram. É difícil crer na situação em que chegamos. É triste. É trágico. É indemissível. Não há como não se indignar. Todo silêncio de quem pode se manifestar nessa hora é cúmplice.