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Live debate os desafios da saúde mental em tempo de pandemia

A Asfoc-SN promoveu mais uma rodada de debates na já tradicional live do Sindicato no início da semana. Sob o tema “Saúde mental e uso de substâncias: desafios em tempo de pandemia”, o evento virtual ontem (08/09) contou com a participação dos pesquisadores da Fiocruz Raquel de Boni e Francisco Inácio, o psiquiatra e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Pedro Gabriel Delgado, além do presidente da Asfoc, Paulo Garrido, e da vice, Mychelle Alves.

Em sua fala inicial, Paulinho falou sobre a intensificação do sofrimento psíquico, do desamparo e do aumento abusivo das drogas com a chegada da pandemia do novo coronavírus (covid-19). E relacionou o difícil momento com o atual cenário político no País. “Esse quadro encontra o processo do governo Bolsonaro, de desestruturação do sistema de cuidados, como o CAPSad (Centro de Atenção Psicossocial – álcool e drogas) e o consultório de ruas”, criticou.      

Para Mychelle Alves, o tabagismo, o trânsito, a violência, o estresse, a depressão, o envenenamento contínuo por agrotóxicos, o uso de drogas lícitas e ilícitas, e o uso abusivo de medicamentos, por exemplo, assumiram dimensões pandêmicas. De acordo com ela, estas questões ganharam relevância no conjunto de fatores que impactam nos índices de morbidade e mortalidade em diferentes países.

“Esses elementos agravam sobremaneira a possibilidade de saúde mental. Uma situação que se agudizou com a pandemia e tudo o que ela nos trouxe ou revelou: desemprego, dificuldades derivadas das agruras do isolamento, abusos sofridos, em geral, por crianças, mulheres e idosos”, ressaltou.

O médico e pesquisador da Fiocruz Francisco Inácio afirmou que a pandemia afetou profundamente os mercados de consumo de drogas ilícitas e lícitas na Europa – as mudanças no Brasil não foram sistematizadas em artigos científicos. Segundo o Observatório Europeu de Drogas, um estudo mostra uma reconfiguração deste mercado por quatro fatores.

Interrupção das rotas tradicionais de tráfico com substituição para outras formas; mudança no padrão de consumo de álcool, se deslocando dos locais abertos para os domicílios; aumento do consumo de drogas sintéticas (na Europa e Estados Unidos); e aumento do consumo na esfera terapêutica – não indicadas por profissionais de saúde – de opioides (também presentes na sedação e intubação para o próprio covid-19) e benzodiazepínicos (drogas para reduzir ansiedade, usadas, inclusive, sem prescrição médica). “Um mercado e padrões de uso em transição que vamos ter que lidar com esses desafios num futuro próximo”, alertou.

De acordo com Pedro Delgado, a pandemia agravou o mal-estar da população brasileira, pela sensação de desamparo, pelo medo da morte, pela falta de atenção e assistência, pelo desemprego, pelo desalento em relação à economia. Ele frisou que o desamparo é reflexo também da falta de direção do País.

“Esse ambiente político, extremamente nefasto, constituído com a ascensão do atual governo e a interrupção do processo democrático em 2016 afeta as pessoas, inclusive as favoráveis ao governo. Afeta a visão de futuro, o bem-estar e vai afetar, de alguma maneira, todos os povos do mundo, principalmente o da Europa. Teremos um cenário psíquico pós-pandemia. E esse cenário precisa ser enfrentado com promoção da saúde, prevenção e medidas com impacto mais coletivo para o bem-estar”.    

A médica psiquiatra e pesquisadora da Fiocruz Raquel de Boni revelou que as entidades internacionais de saúde mental preveem uma quarta onda da pandemia com problemas na própria área e no setor econômico. Ela ainda comentou sobre uma pesquisa online realizada simultaneamente no Brasil (19 mil pessoas) e na Espanha (4 mil), entre abril e maio. Os resultados preliminares apontam para três grandes desafios agravados pela crise sanitária.   

A importância das macrodeterminantes de saúde (condições políticas e econômicas, dos serviços de saúde e da organização da sociedade); de podermos encontrar formas adequadas de prevenir uma nova onda de problemas de saúde mental (estratégias de saúde pública para prevenir tanto as doenças crônicas e transmissíveis, como os transtornos de saúde mental) e do estigma – os transtornos de saúde mental são problemas de saúde, como quaisquer outros, mas eles ainda são muito estigmatizados. “A OMS tem um lema que é: não existe saúde sem saúde mental”, concluiu.

Para assistir ao evento na íntegra, acesse: https://www.facebook.com/asfocsn/videos/352353989464926/

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