A emoção fez parte, mais uma vez, da cerimônia de entrega do Prêmio Sergio Arouca de Saúde e Cidadania e da Medalha Jorge Careli de Direitos Humanos, na segunda-feira passada (13/12). Neste ano, a Asfoc fez uma homenagem especial às vítimas e familiares da Covid-19.
“Saudamos a memória dos que se foram. Prestamos nosso apoio às famílias daqueles que pereceram e àqueles vitimados por sequelas. Uma tragédia que poderia ter sido evitada. Foram mais de 620 mil mortes. Uma grande parte delas decorrente do negacionismo e da facilitação da circulação do vírus em nosso território”, afirmou na abertura da solenidade a presidente da Asfoc-SN, Mychelle Alves, ao ler um texto da Diretoria Executiva.
De acordo com o Sindicato, a premiação deste ano está ligada à luta travada no país. “Uma luta em várias frentes de batalha. Em todas, clamamos por justiça. Não ao silêncio. Não ao esquecimento. É preciso lembrar, é preciso punir para que nunca mais o país passe por uma experiência semelhante”, ressaltou.
Para a Asfoc, é preciso estabelecer pactos intergeracionais garantindo uma vida digna para crianças, jovens, adultos e idosos. Pactos possíveis apenas com o empoderamento das classes populares. “ É preciso abandonar o fanatismo manipulador. Uma indústria de mentiras, as chamadas fake news. Sob a propaganda de um nacionalismo vazio, do apelo à religião ou do demagógico combate à corrupção, cresce o crime organizado”.
A presidente do Sindicato finalizou a leitura afirmando que é preciso lembrar os que lutaram o bom combate, estimular aqueles que não se rendem diante da injustiça, valorizar iniciativas individuais e coletivas de proteção à vida e ao bem viver, fazer a avançar a solidariedade, o conhecimento científico, a cultura e colocar a dignidade para todos e a sustentabilidade ambiental no centro do modelo de desenvolvimento e do projeto de país. “Esse é o objetivo do Prêmio Sergio Arouca de Saúde e Cidadania e da Medalha Jorge Careli de Direitos Humanos”, concluiu Mychelle.
O vice-presidente da Asfoc, Paulo Garrido, lembrou de Maria Careli, representada na cerimônia pelas filhas, Lúcia e Selma. “A mãe de Jorge não está presente na edição deste ano, mas sempre está em nossos corações para este evento de muita emoção. Sempre transmito essa mensagem e esse abraço a uma guerreira, a uma mulher que muito nos inspira”.
Paulinho, também coordenador da Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Covid-19 – Vida e Justiça, leu uma mensagem representando o presidente da entidade, Renato Simões. Inicialmente, lembrou que a Associação completou seis meses de vida promovendo uma aliança estratégica entre as vítimas da Covid-19, seus familiares e entidades da sociedade civil.
“Priorizamos temas que nos aproximam do que Sergio Arouca sempre simbolizou: a defesa do direito à vida como valor essencial na organização da vida em sociedade; a saúde como direito humano universal, devido a todas as pessoas como responsabilidade do Estado; o SUS como política pública capaz de promover o direito humano à saúde, integrada à Assistência e à Previdência numa Seguridade Social forte e acessível a todos e todas. Na perspectiva dos direitos humanos, nossa luta é também por memória, verdade e justiça para as vítimas da Covid-19”.
De acordo com Paulo Garrido, a violação do direito à vida – em nome de uma tese de extrema-direita imposta ao povo brasileiro e a busca da imunidade coletiva do rebanho pela contaminação em massa, sem vacina – gerou outras violações de direitos humanos que precisam ser sistematizadas a partir da memória das vítimas diretas e indiretas da pandemia.
“Em busca da verdade histórica e da devida reparação e da necessária responsabilização de quem cometeu crimes e ilegalidades contra o povo brasileiro. Participar do Prêmio Sérgio Arouca e da Medalha Careli nos fortalece nesses compromissos e nos anima a seguir na luta pelos direitos das vítimas da Covid-19 e por uma sociedade em que os direitos e a dignidade de todas as pessoas humanas sejam respeitados”, finalizou.
Antes da fala de Mychelle Alves e Paulo Garrido, e no encerramento do evento, a flautista Maria Souto, filha de Lúcia Souto e Antonio Ivo (pesquisador da Fiocruz que nos deixou em junho deste ano), fez uma apresentação gravada emocionando a todos.
A cerimônia contou ainda com relatos comoventes de sobreviventes da Covid-19, como o de Tadeu Frederico de Andrade. Ele ficou internado durante 120 dias e foi intubado por duas vezes, e pediu que a situação mundial jamais fosse esquecida. “Esse vírus causou muita tristeza, dano, muitas mortes e sequelas físicas e psicológicas. Que seja um exemplo para que tenhamos maior precaução daqui para frente com esse tipo de situação”, afirmou.
O advogado e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) Luciano Tolla ressaltou que a ABJD está na “trincheira para desmascarar os mentirosos de plantão do sistema de justiça”. “E não é só o ex-juiz de Maringá. São os promotores e o Ministério Público. Parte destes setores. Então, a ABJD é uma trincheira que se soma ao Vida e Justiça para a gente, em 2022, derrubar esses fascistas de plantão”.
A assessora e funcionária da Asfoc Edimere Amaral Romão, ao lado Diego Paixão de Oliveira – filho de Luiz Carlos de Oliveira, servidor do Instituto Fernandes Figueira (IFF) e vítima do novo coronavírus –, foram os últimos homenageados do dia.
“Estou na Asfoc há 28 anos, acompanho a questão da medalha desde o início. Então é sempre um evento de muita emoção. Nunca imaginei que eu estaria aqui, e muito menos por esse motivo. Agradeço à Asfoc. (…) No final do dia, a gente volta para casa sabendo que não vai encontrar a pessoa mais importante da nossa vida. Eu perdi minha mãe, em 4 de maio de 2020. Semanas antes eu tinha perdido um sobrinho. E a gente se apegou ao trabalho na Asfoc para tentar esquecer esse período. A nossa relação é eterna. À ela, todas as minhas homenagens, a pessoa mais forte e íntegra que eu já conheci na vida. Muito obrigada”, afirmou Edimere, aplaudida de pé por todos os presentes ao evento na tenda montada em frente à Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV).
Confira ainda as falas dos integrantes da Mesa e dos homenageados com o Prêmio Sergio Arouca e Medalha Careli:
DISCURSO DOS INTEGRANTES DA MESA
Presidente do Cebes, Lúcia Souto
“Essa premiação tem sido algo marcante no sentido do reconhecimento das lutas, tão fundamentais neste momento do país. Um momento crítico, e essa premiação em uma data (13/12), infelizmente, de triste memória para o país, da assinatura do Ato Institucional número 5. Então é um tempo de grandes desafios para o Brasil, para a América Latina inteira, e para o mundo. É um momento em que nós, que estamos vivos, temos responsabilidades enormes, e a Asfoc tem estado à altura de enfrentar e saber o compromisso que temos todos. Parabéns, Asfoc!”.
Ana Tereza Riberio de Vasconcelos (representante da SBPC)
“Uma frase do vídeo institucional da Fiocruz que eu, como pesquisadora, fico sempre emocionada: todos nós temos um pouquinho da Fiocruz dentro da gente. É com muito orgulho que eu sinto esse sentimento de ter um pedaço da Fiocruz. Muito obrigado, Asfoc e Fiocruz”.
Presidente da Abrasco, Rosana Teresa Onocko Campos
“A Abrasco se sente totalmente companheira e parceira, e neste gesto (de premiação) desejo muito agradecer a possibilidade de estar neste momento tão importante, ainda de maneira virtual, junto de todos vocês. Parabéns aos premiados e ao Sindicato, pela sua iniciativa. A Abrasco está junta e nós queremos continuar esta luta em defesa da saúde pública”.
Presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto
“Nós precisamos, cada vez mais, preservar a memória das pessoas que nos foram tiradas. Das centenas de milhares de vidas que nos foram tiradas. Se não fosse o SUS e não fôssemos nós, seriam milhões de vidas. E a gente precisa preservar esta memória para que elas não sejam esquecidas. E para que não se repita mais. Vou visitar o Memorial da Maré. Precisamos de muitos memoriais para ficar registrado na nossa memória. (…) Quero compartilhar com vocês o que diz o poema, a música (“Apesar de Você, de Chico Buarque) e o que nós precisamos celebrar é a vida. E que sabemos, sim, que amanhã vai ser outro dia: Apesar de você// amanhã há de ser outro dia// Inda pago pra ver// O jardim florescer// Qual você não queria// Você vai se amargar// Vendo o dia raiar// Sem lhe pedir licença// E eu vou morrer de rir// Que esse dia há de vir// Antes do que você pensa. Forte AbraSUS”.
Assessor de Relações Interinstitucionais da Vice-Presidência da Fiocruz e coordenador do Programa IdeiaSUS, Valcler Rangel (representante da Presidência da Fiocruz)
“Para discutir o futuro, nada mais correto do que reverenciar e tratar do futuro a partir da memória. Estou lendo um livro, “Contos da Resistência”, em que quatro médicos ficaram escrevendo durante a pandemia inteira pequenos textos no Facebook. E o Edmar Oliveira, em um dos trechos, fala em a memória como ato de resistência. Essa é a mensagem que está colocada aqui para gente. De trabalhar a memória de Sergio Arouca e de Jorge Careli, que tive o prazer de conhecer ambos… a energia que esses dois transmitiam com seus sorrisos, seus atos, suas genialidades, e essa memória de grandes lutadores. Todos os homenageados hoje têm essa representação da luta por direitos humanos, por saúde e cidadania. Parabéns para a Diretoria da Asfoc, por estar mantendo essa premiação que sempre nos emociona muito. Pela memória dos lutadores pela vida, pela democracia, pela memória da ciência, dos trabalhadores e trabalhadoras de saúde que viveram esse período duro e que vão conseguir dar muito mais ainda para a gente. A Fiocruz está com a Asfoc nessa luta por democracia e por direitos”.
HOMENAGEADOS COM O PRÊMIO SERGIO AROUCA
Frente pela Vida (representante Túlio Franco)
“Representando a Frente pela Vida, recebo da Associação dos Trabalhadores da Fiocruz o Prêmio Sérgio Arouca de Saúde e Cidadania. Especialmente agradeço à Abrasco, Cebes, SBB e à minha entidade, Rede Unida, que coordenam a Frente. Assim como a comunidade científica, trabalhadoras e trabalhadores, comunidades e a todas entidades, mais de 600, que assinaram o manifesto de lançamento da Frente pela Vida em 2020. À Asfoc, muito obrigado”.
Fórum de Governadores (representado pelo governador do Piauí, Wellington Dias)
“Se eu pudesse resumir tudo o que aconteceu em uma frase seria (durante o trabalho na pandemia): foi o mesmo desafio de trocar o pneu com o carro andando. O tempo não podia parar para que a gente pudesse, ao mesmo tempo, conhecer o coronavírus, garantir condições de avanço na pesquisa e fazer uma ampliação, em muito pouco tempo, na rede de saúde. O grande sucesso foi a integração. E a segunda grande decisão foi a de seguir a ciência. Aqui, o nosso grande farol foi a Fiocruz. (…) É uma honra muito grande receber o Prêmio Sérgio Arouca, que é um herói brasileiro. Poder aqui partilhar um trabalho suprapartidário das 27 unidades da Federação, garantir com o CONASS, com o CONASEM essa integração com os municípios, com o setor privado, além do poder federal com o Ministério Público. Vamos seguir adiante, com muito mais energia a partir desse prêmio, mais responsabilidade para seguir salvando vidas. Esse prêmio diz respeito também a milhões de pessoas na rede de saúde, na vigilância, na segurança, nos setores público e privado, nas entidades filantrópicas, enfim, que trabalharam para que pudéssemos, juntos com líderes do Brasil, garantir as condições de seguir ciência e, com isso, evitar um desastre maior. Quem seguiu mais a ciência conseguiu melhores resultados”.
Frente de Mobilização da Maré contra Covid-19 (representante Gisele de Oliveira Martins)
“A nossa principal mensagem (durante pandemia) é: quem tem água divide. Quem tem comida divide. Quem tem remédio divide. Quem tem carro para carregar alguém doente para o hospital divide. Porque a solidariedade neste momento é que vai nos salvar, já que o governo não está presente, já que é um governo genocida. Foi assim que nestes dois anos nós estamos nos mobilizando até hoje com o apoio da Fiocruz. Da Asfoc, agradecemos imensamente por essa premiação, e ao Museu da Maré, principalmente aos voluntários e voluntárias da Frente de Mobilização da Maré. Nem tiro, nem fome, nem Covid… A favela vai viver e vai resistir. São 120 anos de favela que o povo negro resiste e vive nestes lugares. E vamos continuar juntos em solidariedade”.
Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (diretora Valdiléa Veloso)
“É com grande honra que recebo, em nome do INI, o Prêmio Sergio Arouca de Saúde e Cidadania da Asfoc. E eu trago aqui a gratidão e satisfação de todos os trabalhadores do INI, pelo reconhecimento do trabalho do nosso Instituto em prol da sociedade brasileira na assistência, pesquisa, no ensino, na defesa do SUS e na saúde como direito humano universal. Saúde é democracia, conceito criado por (Sergio) Arouca. (…) Agradeço à Asfoc e todos os trabalhadores da Fiocruz que contribuíram para a construção do Centro Hospitalar em tempo recorde, de sete semanas. Essa é uma vitória coletiva dos trabalhadores da Fundação Oswaldo Cruz”.
Pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo
“Receber um prêmio de nome Sergio Arouca, a quem eu tive o prazer e a honra de conhecer e conversar várias vezes, sem dúvida nenhuma tem, para mim, uma médica que faz assistência, pesquisa clínica e tem o compromisso institucional uma trajetória, obviamente, de coerência… não posso receber apenas pessoalmente. Eu recebo em nome dos inúmeros colegas, médicos, profissionais da saúde, que desde o dia 10 de março de 2020, quando nós vimos que era o recuo do mar e a tsunami chegaria até nós. Em nome destes colegas, não só da Fiocruz, das universidades, que têm produzido, lembrando que o Brasil, a despeito de tantas adversidades, é o décimo país em publicações científicas durante a Covid-19. Isso não é pouca coisa. Isso significa que nós fizemos um esforço não apenas de informar, assistir, tratar nossos pacientes, mas, sobretudo, deixar um registro do que foi a nossa experiência e capacidade. Em memória de Sergio Arouca, de sua querida filha, Luna, da querida Lara, é que eu recebo esse prêmio com profunda emoção. Agradeço à Fiocruz, que é a Instituição que me acolheu e a quem eu devo toda fidelidade perenemente”.
CPI da Pandemia (senador Humberto Costa)
“Agradeço a todos em nome dos integrantes da CPI da Covid, pela escolha da Comissão Parlamentar de Inquérito, que investigou as ações e omissões do governo federal em relação ao enfrentamento à Covid, pelo Prêmio Sergio Arouca de Saúde e Cidadania. A CPI da Pandemia ocupou, sem dúvida nenhuma, papel importante na nossa sociedade durante essa pandemia. Ela foi capaz de catalisar o sentimento da população, a atenção para a pandemia e os equívocos do governo no seu enfrentamento, e catalisar também a própria insatisfação da sociedade. Nós trouxemos à tona os fatos de tudo que estava acontecendo no Brasil naquele momento. E esse trabalho não seria possível se nós não tivéssemos o apoio da comunidade científica, de todos os profissionais de saúde e de todos aqueles que lutam há muito tempo pela constituição de um SUS cada vez mais cidadão, capaz de garantir a toda população brasileira o acesso a políticas e ações de saúde no nosso país. Agradeço profundamente por esse reconhecimento generoso que a Asfoc fez em relação à CPI da Covid”.
Rio pela Vida (representantes Sarah Pitta e Valcler Rangel)
Sarah Pitta: “Foi uma experiência muito gratificante. Estivemos em vários pontos de transporte público, lotação, e as pessoas tinham muita dificuldade no seu dia a dia em se adequar a medidas não farmacológicas: de distanciamento, uso de máscara e álcool em gel. E o movimento Rio pela Vida neste sentido foi extremamente importante, porque além de falar com a população, estávamos com a população nos locais que realmente existe uma maior possibilidade de contaminação desse vírus. Agradeço ao Conselho Regional, à Anistia Internacional, ao grupo Crioulas e a uma série de outros atores sociais que participaram deste movimento. Como o próprio nome diz, o movimento não feito só por uma instituição, mas por um conjunto de pessoas que buscam uma mesma direção”.
Valcler Rangel: Foi uma ação de amor pelo Rio, pelas pessoas e pela vida. Cebes estava junto, Abrasco estava junta, Asfoc estava junta… pessoas, gente de religiões, associações de moradores, de toda gama de representações do Rio de Janeiro. E a gente pôde criar esse clima e conseguir fazer alguma coisa para contribuir com o enfrentamento à pandemia. Agradeço por ter vivido essa experiência e agradeço à Asfoc por essa homenagem que nos orgulha muito”.
Secretária Municipal de Araraquara (SP), Eliana Mori Honain
“Essa homenagem é um reconhecimento de todos aqueles que fizeram a escolha pela vida. Nós, em Araraquara, escolhemos o caminho da ciência e da vida. Eu recebo essa homenagem em nome de todos os trabalhadores de Araraquara, que se dedicaram e se dedicam ao combate à Covid. (…) Me sinto extremamente lisonjeada por estar recebendo este Prêmio Sergio Arouca, um dos idealizadores do SUS, que é a política pública mais séria deste país e que cabe a cada um de nós, diariamente, viabilizá-lo. A minha gratidão à Fiocruz, ao Sindicato, por essa homenagem, e também a todos os gestores municipais que tiveram que decidir sobre as ações a serem tomadas, sem o apoio e o respaldo da responsabilidade de quem deveria dar a política de saúde para este país, o governo federal. Os governos municipais e estaduais tiveram que enfrentar essa pandemia sem o apoio e sem a condução do governo federal. A todos os gestores municipais e estaduais, a minha homenagem”.
Pesquisador da Fiocruz Júlio Croda
“Agradecer e dedicar esse prêmio a todas as vítimas de Covid. Poderia ser bem menor esse número, se lá no passado o presidente, principalmente, ouvisse a ciência. Passaram dois anos, e ainda assim persiste em discursos negacionistas que afrontam todas essas vítimas. Dedicar essa honraria a todas essas vítimas, a todas as pessoas que desenvolveram uma sequela em relação ao Covid. (…) Parabéns para Asfoc por organizar este momento para recordar, para lembrar do futuro, destas vítimas, e a gente permanecer nesta luta, que não termina aqui, continua, e possa ter mais investimentos em ciência, em pesquisa, para transformar este país”.
Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (representante Alexandre Telles)
“Agradeço em nome do Sindicato dos Médicos à Asfoc. Nós vivemos um momento muito difícil, em que o negacionismo científico tem imperado no governo federal, mas também dentro das entidades médicas. Tem sido um debate muito difícil. Em nome de uma falsa autonomia que o médico teria, muitos medicamentos sem evidência científica, eficácia, e até com possibilidade de efeitos colaterais maléficos aos pacientes foram prescritos. E as entidades médicas, a todo momento, utilizando esse argumento da autonomia do médico. Nós entendemos que a medicina tem que se pautar na ciência, na bioética, e essa pandemia serve justamente para refletir como tem sido a formação dos nossos profissionais, o ensino da bioética, como temos pautado a condução das nossas pesquisas e os ensinamentos científicos. Nós temos nos posicionado em favor da ciência e da medicina, baseado nas evidências. Vamos seguir na luta”.
Sociedade Brasileira de Bioética (presidente Elda Bussinguer)
“Receber um prêmio em homenagem a Sergio Arouca é, na realidade, receber, talvez, um dos maiores prêmios, reconhecimentos que podemos ter. Lembrar da figura, da imagem, das lutas, dos ideais de Sergio Arouca é trazer a memória aquilo que nos pode dar esperança. É trazer a memória do nosso compromisso de luta, é reavivar em nós o desejo, o sentimento de mudanças, de buscarmos neste momento tão difícil na vida do país, de tantas lutas contra o SUS, de estarmos aqui com a saúde pública, envolvidos, aproximados com pessoas e instituições que dedicam suas vidas à luta de todos terem direito à saúde universal, de forma equânime, acesso aos serviços de saúde. E também que nós possamos lembrar que saúde é um direito de cidadania. Saúde não é um bem de consumo, e é neste sentido que nós precisamos nos organizar, nos aproximar para que tenhamos força para resistir contra todas as investidas contra a saúde pública, coletiva e os ideais que nos levaram com o movimento da reforma sanitária a alcançar este capítulo da saúde na Constituição, as leis orgânicas da saúde, este belo, fantástico, sofisticado edifício que foi construído por muitos, para que nós tivéssemos, então, o Sistema Único de Saúde”.
Associação de Médicos pela Democracia (Dinália de Mesquita)
“A comunicação (da premiação) foi um misto de sentimentos, de surpresa, gratidão, alegria, e todo mundo se sentiu muito honrado. Ficamos surpresos porque nossa associação ainda tem pouco tempo, estamos engatinhando. (…) Como o nome (da associação) já indica, surgiu em defesa da democracia, dos direitos humanos, da inclusão social, da diminuição da desigualdade, da defesa da saúde no conceito Sergio Arouca, em que a saúde não é apenas a ausência de doença e, sim, de um bem-estar social, físico, mental. E isso não existe se não tivermos democracia. Esse é o objetivo principal da nossa associação. (…) Contar com a Fiocruz e o SUS não é só um motivo de orgulho. É a salvação dos brasileiros e brasileiras, e todas as pessoas que trabalham com saúde”.
Pesquisador Felipe Naveca
“Confesso que precisei de alguns minutos para segurar a emoção depois do e-mail que recebi da Mychelle (presidente da Asfoc) para receber essa honraria. Primeiro porque é um prêmio que tem o nome de Sergio Arouca. É uma honra e uma responsabilidade muito grande. E segundo porque é um prêmio indicado pelos meus pares da Fiocruz. Isso é um reconhecimento muito importante. Mas esse prêmio não é de um indivíduo, esse prêmio é de uma equipe da virologia do Instituto Leônidas e Maria Deane, que não teve dúvida nenhuma em abandonar as teses, dissertações e monografias para transformar um laboratório de pesquisa em um de assistência. Nós nos tornamos um dos três laboratórios oficiais no estado do Amazonas a trazer o diagnóstico de Covid-19. E fizemos isso porque era o mais necessário para a população do Amazonas naquele momento. Isso foi algo muito importante e eu divido essa honraria com toda a minha equipe que trabalhou neste tempo”.
Redes de Desenvolvimento da Maré (representante Shyrlei Rosendo)
“Agradecer à Asfoc imensamente pelo trabalho que nós estamos desenvolvendo juntos na Maré. Não conheci o Sergio Arouca, mas personalidades como ele deveriam estar no livro de história, porque o Sergio tem uma importância muito grande para a saúde pública neste país. Mas eu tive a sorte de conhecer e trabalhar com a filha dele. Inclusive, ela é uma das pessoas que lideram a frente da campanha “Maré diz não ao coronavírus”, que o centro de testagem vem desenvolvendo esse trabalho junto à Fiocruz”.
Adele Benzaken (diretora do ILMD)
“Agradeço à Asfoc pela homenagem ao me conceder o Prêmio Sergio Arouca. Dentro da minha vida profissional, nos últimos 40 anos, trabalhei diretamente com as populações mais vulneráveis, principalmente no que diz respeito ao HIV e às infeções sexualmente transmissíveis. Agradeço a escolha”.
Pesquisador da Fiocruz Marcus Vinícius Lacerda
“Foi com imensa alegria que recebi a notícia de que os meus pares da Asfoc me indicaram a receber o Prêmio Sergio Arouca. O nome do prêmio fala muito mais do que o homenageado. Sergio Arouca, sempre muito atual, foi aquele que concretizou os últimos passos para implementação o Sistema Único de Saúde, o grande coxim que diminuiu o impacto desta pandemia que já nos segue há dois anos. O SUS vive momentos de avanços e retrocessos, e igual à escultura em barro de um artesão, que adiciona barro e retira barro, o SUS amadurece a cada dia com a retirada de insumos, orçamento, com a retirada da sua prioridade. Mas em outros momentos ele avança. Ele aprende com os problemas que teve, a depender daquele que geria a sua administração. Por isso, mais importante do que homenagear as inúmeras pessoas e instituições que participaram da construção da saúde pública e fazem pesquisa de qualidade neste país, é importante lembrar de Sergio Arouca, da Fiocruz. É importante que, como pesquisador, olhemos para o futuro e pensemos em quais são os reais desafios que teremos daqui para frente. A todos vocês, o meu muito obrigado”.
HOMENAGEADOS COM A MEDALHA CARELI
Fórum de Pré-Vestibulares do Rio de Janeiro
Juliana Nascimento da Silva: “Agradeço a cada Pré-Vestibular que compõe o Fórum. Agradeço, também pela Medalha, à Asfoc e à Fiocruz. E também a Cooperação Social da Fiocruz, pelo apoio ao nosso projeto e aos nossos eventos, que têm sido muito fortalecedores, ainda mais neste momento de pandemia”.
Lourrane Cardoso dos Santos: Uma das coisas que me chamam mais a atenção (no Fórum) é a pluralidade. Obviamente nós temos divergências, mas nunca impediram de continuar caminhando para um trabalho coletivo, que atinge diversos lugares periféricos. Durante a pandemia, essa frente foi o lugar de fortalecimento para muitos prés que seguiram sozinhos, principalmente neste período no qual enfrentamos a violência do Estado. É importante ressaltar que não foi apenas a Covid que enfrentamos. Enfrentamos também a violência do Estado entrando nas favelas, na periferia do Rio de Janeiro, além da fome, o negacionismo. (…) Muitos dos nossos morreram nesta pandemia. Morreram de tiro, de Covid. E parafraseando o aclamado samba da Mangueira (2019): na luta e na rua a gente se encontra”.
Érika Hilton (vereadora do PSOL)
“Estou muito feliz e honrada de receber a Medalha Jorge Careli de Direitos Humanos. E numa sociedade como a nossa, que vem atravessando um momento tão difícil. Sempre foi muito duro defender os direitos humanos, falar, valorizar a falta dos direitos humanos. Mas todos nós sabemos e reconhecemos que nos últimos anos, em especial com a chegada de Bolsonaro à Presidência… essa tem sido uma pauta muito cara e a qual nós estamos sendo constantemente atacados por fazer essa defesa. O Brasil é um dos países que mais mata defensores de direitos humanos no mundo e nós sabemos a importância da valorização da vida e dos direitos humanos. E seguiremos dando as nossas vozes para que todos nós tenhamos direitos, mas mais do que isso, tenhamos nossas humanidades respeitadas, valorizadas e reconhecidas. Quando ferem nossos direitos humanos, estão ferindo os nossos direitos de reconhecermos enquanto humanos. Por isso somos nós, negros e negras, populações indígenas, LGBTQIA+ que somos as maiores vítimas das violações de direitos humanos. Pois são estas humanidades que são roubadas, sequestradas todos os dias, e numa sociedade intolerante, reacionária, raivosa como a nossa. Viva a luta dos direitos humanos, viva as premiações, muito obrigada, muito honrada, e espero que, juntos, continuemos traçando uma jornada onde as pautas e as lutas pelos direitos humanos sejam cada vez mais intrínsecas ao projeto de sociedade e de humanidade que queremos”.
Centro de Estudos e Ações da Maré (representante Claudia Rose Ribeiro da Silva)
“Agradeço muito a indicação para receber essa medalha que tem importância incrível e dialoga profundamente com nossas lutas e com aquilo que acreditamos. Não foi à toa que nos unimos para criar o CEASM e também o Museu da Maré, que é um projeto nascido a partir do CEASM. A gente, enquanto morador da favela, experimentava no dia a dia todas essas violências e sabia que era importante se unir e criar uma instituição que dialogasse com toda a Maré”.
Coalizão Negra por Direitos (representante Wesley Teixeira)
“Mais recentemente, a Coalizão foi marcada pela campanha Tem Gente com Fome, que durante a pandemia atendeu mais de 100 mil famílias. Mas a gente faz muita luta nos territórios, das mais de 200 organizações, incidência internacional e nacional, e reconhecimentos como estes nos dão a motivação para continuar na luta”.
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (representante indígena Anildo)
“Venho em nome da PIB agradecer a todos os coordenadores. Um agradecimento à Fiocruz pelo prêmio de reconhecimento de luta e resistência do nosso povo”.
Grupo de Trabalho de Saúde Indígena da Abrasco (representante Ana Lúcia Pontes)
“Em nome do Grupo, estou profundamente emocionada em receber essa medalha. Agradeço à Asfoc, em nome de um coletivo criado há 21 anos. (…) Essa Medalha Jorge Careli de Direitos Humanos, uma distinção tão especial, é o reconhecimento da força das instituições quando colocadas ao lado e a serviço do direito dos indígenas e da ciência. É o reconhecimento de alguns valores no trabalho acadêmico. Da colaboração ao invés da competitividade, da solidariedade e empatia ao invés do individualismo. Valores que tenho orgulho de dizer que foram fundamentais no nosso trabalho, particularmente juntos durante a pandemia na articulação dos povos indígenas do Brasil”.
Prade Julio Lancellotti (representante Paulo Garrido)
“É muita responsabilidade receber o prêmio em nome do padre Lancellotti, mas é mais um compromisso assumido pela Asfoc”.