A Asfoc-SN já publicou uma nota sobre o episódio da pesquisa sobre o uso da cloroquina no combate à Covid-19. Uma pesquisa séria e realizada por gente competente. Entretanto, as declarações do deputado Eduardo Bolsonaro nos obrigam a esclarecer a população. Vamos aos fatos.
Eduardo Bolsonaro levianamente declarou o seguinte:
Que a pesquisa causou 11 mortes por doses de medicamento fora do padrão (é mentira, as doses foram especificadas com bases em estudos anteriores de outros países como a China).
Que “os responsáveis são do PT” e ironicamente acrescentou: “mas isso é pura coincidência, claro…”. Ele procura, cinicamente, ligar uma coisa à outra.
O grupo acusado, injustamente, pelo deputado Eduardo Bolsonaro é composto por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
O grupo reúne, sob a designação de Clorocovid-19, 70 profissionais de alta qualificação, guiados por forte sentido ético e responsabilidade social. Um grupo que reúne pessoas dos mais diferentes matizes políticos. Contudo, cabe reafirmar que a relação entre opção política e a pesquisa não se sustenta.
A pesquisa foi aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.
A pesquisa é cotidianamente monitorada por um Comitê de Acompanhamento e Segurança Independente formado por especialistas do Brasil e do exterior.
A pesquisa sempre zelou pela transparência. Os resultados parciais da pesquisa em andamento foram publicados pelo grupo no site MedRxiv, nos Estados Unidos.
A pesquisa serviu para chamar a atenção da população americana sobre os potenciais riscos do uso de cloroquina.
Todo o material da pesquisa está disponível para revisão e análise.
O deputado Eduardo Bolsonaro não pediu acesso e não conhece o teor da pesquisa e seus registros. Seu posicionamento é ideológico e oportunista.
Suas declarações não têm base em nada de concreto a não ser boatos ou críticas infundadas e igualmente levianas que não se apoiam em dados concretos e que são reproduzidas por robôs.
O deputado Eduardo Bolsonaro se utiliza da morte de 11 pessoas (de um grupo de 81 pacientes na mesma condição) para fazer política do mais baixo nível.
Criminosamente relaciona a opção política de alguns dos 70 profissionais com incompetência ou atos criminosos que teriam levado à morte pacientes em estado grave de Covid-19.
A pesquisa contava com duas vertentes de investigação, evolvendo dois grupos de pacientes em estado grave:
a) uma linha dedicada aos estudos dos efeitos da administração de pequenas doses e
b) a outra que trabalhava com a administração de doses maiores.
Entre os 11 pacientes graves que vieram a óbito havia pessoas dos dois grupos.
Para Eduardo Bolsonaro o que vale é acusar opositores. Para ele, o fato de alguns pesquisadores terem votado em Fernando Haddad é sinal de crime. Se alguns votaram em Haddad o fizeram por se colocar ao lado da civilização contra a barbárie e o obscurantismo. Contra os ataques à ciência e a verdade que sabiam que viriam com a chegada de Bolsonaro ao poder.
Eles não têm respeito por nada. Estão destruindo o país e defendendo o relaxamento do isolamento horizontal. Uma medida que se for adotada fará aumentar a transmissão e o número de vítimas fatais.
Lembramos que foi Bolsonaro que disse que a pandemia não passava de gripezinha. Que não passava de histeria da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do restante do mundo. Lembramos que Bolsonaro vive dando péssimos exemplos e que demitiu o ministro da Saúde no meio da maior crise sanitária já enfrentada pelo país. Não participamos das posições políticas de Luiz Mandetta, mas consideramos sua demissão um ato de total irresponsabilidade motivado por motivos torpes.
É preciso cuidar e cuidar de quem cuida. Somos a Asfoc-SN. Somos Fiocruz. Somos SUS.