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Asfoc propõe moção de apoio a professores da Universidade Federal do ABC no encerramento do Abrascão

No encerramento do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2018) neste domingo, na Fiocruz, a Asfoc-SN propôs uma moção em solidariedade e apoio aos professores Valter Pomar, Gilberto Maringoni e Giorgio Romano. No discurso da vice-presidente do Sindicato, Mychelle Alves afirmou que os docentes vêm sendo “alvos de comissão de sindicância investigativa, motivada por denúncia anônima, cujo objeto refere-se à acusação de participação em atividade de lançamento do livro denominado ´A verdade vencerá´, nas dependências da Fundação Universidade Federal do ABC”.

Em sua fala, Mychelle Alves também ressaltou os ataques do capital financeiro, aliados à grande mídia e aos interesses geopolíticos contrários à soberania do país. “Eles lideram um processo que visa retirar os direitos que conquistamos na Constituição de 1988. Um processo obscurantista que criminaliza a política, os movimentos sociais, as artes e a ciência. Um processo contrário ao pensamento crítico. Um processo autoritário, violento, intolerante e preconceituoso. Um processo que quer calar as diferenças, e nós, do campo democrático, não podemos compactuar com esse tipo de prática”, frisou.

Segundo ela, este é um processo que ainda busca fragilizar o Estado e liquidar com a capacidade de resistir aos avanços de um neoliberalismo inimigo da democracia, do bem-estar e da justiça social.

A vice-presidente lembrou também os assassinatos de Marielle Franco, Anderson Gomes, Mateus e Marcus Vinícius. “Temos que continuar a lutar, resistir e ocupar todos os espaços exigindo a imediata apuração dos assassinatos. Vidas negras importam! Vidas faveladas importam!”.

Leia o discurso completo abaixo:

Boa tarde a todos e todas! Gostaria de saudar a mesa nas pessoas do presidente da Abrasco, Gastão Wagner, de Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz, e do representante do COFEN. Também gostaria de saudar e parabenizar a nova presidente eleita da Abrasco, Gulnar Azevedo, e uma saudação ao Conselho Nacional de Saúde, na figura do seu presidente Ronald dos Santos. Uma saudação que se estende aos participantes desse encontro que nos renova para a luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Pesquisadores, professores, trabalhadores, estudantes, militantes da Saúde pública, sindicalistas, movimentos sociais e as comunidades aqui presentes. A todos, minha saudação! Reservo, contudo, uma saudação especial para as mulheres, e principalmente para nós, mulheres negras, que no último dia 25 de julho, foi comemorado o Dia Internacional da Mulher Negra e Caribenha. Essas batalhadoras cotidianas no enfrentamento da injustiça, do preconceito, do assédio e da barbárie que atingiu Marielle, que empresta o nome a esta Tenda.

Queremos lembrar Marielle, Mateus, Anderson, Marcus Vinícius e muitos outros assassinados pela cultura da violência e pela impunidade de uma política de segurança que há muito se mostrou ineficaz, irresponsável e genocida.

Temos que continuar a lutar, resistir e ocupar todos os espaços exigindo a imediata apuração do assassinato de Marielle, que foi mais um ataque à democracia e a tentativa de calar o povo preto e favelado que vem sendo silenciado desde a escravatura.

Vidas negras importam! Vidas faveladas importam!

Uma máquina insana de morte que atinge principalmente moradores dos bairros populares, crianças, idosos, trabalhadores, policiais e suspeitos sem chance de defesa. Uma política de uso indiscriminado da violência do Estado que, embora de modo diferenciado, se constitui em uma ameaça a todos os segmentos sociais, nos bairros pobres e nos bairros ricos. Definitivamente, não estamos seguros! Precisamos considerar que a violência não é um só problema de segurança e que também é um problema de saúde pública. Um problema de um modelo excludente do desenvolvimento adotado pelo país até agora.

Represento a Asfoc-SN, Sindicato dos trabalhadores e trabalhadoras da Fiocruz. Um sindicato que acredita que o papel precípuo do Estado é defender a vida, o bem-estar da sociedade e condições dignas para todos. Nossa luta é por um projeto de país que tenha o ser humano como objetivo central de sua estratégia de desenvolvimento. O bem-estar da sociedade não pode ser um objetivo lateral, subordinado aos interesses econômicos de rentistas ou de qualquer outro segmento empresarial. O mercado não pode se sobrepor à vida e à dignidade humana.

Defendemos um Estado indutor de um desenvolvimento inclusivo e ambientalmente sustentável.

Um Estado laico, que zele pela maioria sem abandonar as minorias e os vulneráveis. Defendemos que ninguém seja deixado para trás. Um Estado soberano e defensor da paz e dos valores de civilização.

Estamos enfrentando um momento gravíssimo da história de nosso país. O capital financeiro, aliado à grande mídia e a interesses geopolíticos contrários à nossa soberania, vem liderando um processo que visa retirar os direitos que conquistamos na Constituição de 1988. Um processo obscurantista que criminaliza a política, os movimentos sociais, as artes e a ciência. Um processo contrário ao pensamento crítico. Um processo autoritário, violento, intolerante e preconceituoso. Um processo que quer calar as diferenças, e nós, do campo democrático, não podemos compactuar com esse tipo de prática. Baseado em mentiras e manipulações midiáticas.

Um processo que busca fragilizar o Estado e liquidar com a nossa capacidade de resistir aos avanços de um neoliberalismo inimigo da democracia. Inimigo do bem-estar e da justiça social.

No campo da soberania, estamos presenciando um verdadeiro saque aos recursos nacionais. O pré-sal foi entregue, a Embraer também. Privatizações ameaçam empresas como a Embrapa, a Eletrobrás e os bancos públicos. A saúde, o ensino e a aposentadoria estão na mira de grandes grupos empresariais e, ao lado de outros segmentos, como exploração de jazidas de nióbio e outros minerais, atraem a cobiça do grande capital. Ordenamentos jurídicos internacionais de defesa da propriedade intelectual são utilizados para conferir a grandes grupos estrangeiros o acesso exclusivo ao nosso patrimônio genético. Ciência e tecnologia têm recursos cortados, dificultando o atendimento das demandas sociais e reduzindo a capacidade de o país reagir à crise e à concorrência internacional. Recursos do Estado e do setor produtivo são drenados para atender ao rentismo beneficiário direto de uma dívida pública que deve ser auditada.

Ao lado disso, e por causa disso, a austeridade continua fazendo vítimas. A pobreza extrema cresce e se mostra no aumento da mortalidade infantil, nas ameaças de epidemias e no aumento do desemprego, da população de rua e da violência. O corte no Bolsa Família é cruel e covarde. Uma atitude que mostra a essência do neoliberalismo e das elites locais.

É mais do que urgente e necessário sairmos daqui com o compromisso de lutar pela revogação da Emenda Constitucional 95, que limita por 20 anos gastos nas áreas de Saúde e Educação, e que busca diminuir o papel do Estado nas políticas públicas. O SUS é do povo! O SUS é o povo!

Nesses dias de Abrascão, tivemos a oportunidade de aprender e debater sobre importantes temas que impactam a vida da população brasileira, como saúde pública, saúde coletiva, epidemias, emergências sanitárias, desigualdades sociais, impactos da violência, racismo, ataques à democracia, entre outros. E neste momento de encerramento do Congresso, temos que permanecer lutando e resistindo. Por isso, a Asfoc-SN propõe uma moção em solidariedade e apoio aos professores Valter Pomar, Gilberto Maringoni e Giorgio Romano, alvos de comissão de sindicância investigativa, motivada por denúncia anônima, cujo objeto refere-se à acusação de participação em atividade de lançamento do livro denominado “A verdade vencerá”, nas dependências da Fundação Universidade Federal do ABC.

As eleições estão aí e precisamos travar um combate imenso contra o pensamento difundido pela mídia defensora do Darwinismo social. Precisamos defender o Estado e o serviço público como garantidores de uma cidadania efetiva. Precisamos defender a democracia. Precisamos defender a nossa soberania. Precisamos construir uma sociedade justa.

Nesse encontro, demos alguns passos importantes nessa longa caminhada e renovamos as nossas esperanças para fortalecer o SUS, os direitos e a democracia! Uma caminhada que não pode haver abandono. É hora de lutar e resistir! De resistir e avançar! É hora de construir a 16ª Conferência Nacional de Saúde, a 8ª + 8! Contra o entreguismo! Contra o rentismo! Nenhum direito a menos! Ninguém deixado para trás. Marielle vive! Lula Livre!

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