A Asfoc-SN participou nesta quarta-feira (22/07) do primeiro dos três seminários online intitulados “Diálogos com os Trabalhadores”, para discutir os efeitos da Covid-19 nas relações e modalidades de trabalho. O evento é uma iniciativa da Fiocruz e coordenada pela Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas (Cogepe).
O presidente do Sindicato, Paulo Garrido, explicou a relação da pandemia e as estruturas da sociedade. Ele ressaltou que, antes mesmo da pandemia do novo coronavírus, o Brasil já vivia uma grave crise. “O impacto dessa pandemia é enorme e, talvez, nunca chegue a ser completamente conhecido. A pandemia atinge o mundo em um período em que vivíamos problemas estruturais seríssimos. Estávamos caminhando para uma grave crise econômica, para o desemprego estrutural. Vivíamos uma crise ambiental e outras relacionadas à fome, às guerras, às migrações forçadas. A tudo isso se juntou a crise sanitária internacional”, ressaltou.
Posteriormente, Paulinho comentou sobre os impactos da Covid-19 na vida dos trabalhadores. “Assim caminhamos para o que se convencionou chamar de a tempestade perfeita: a associação de várias crises. Diante deste enorme impacto, o mundo está procurando se reorganizar em outras bases. Deste modo, nós, da Asfoc, consideramos fundamentais as discussões sobre as medidas de segurança e de retorno ao trabalho. Entretanto, também consideramos que é de vital importância que elas sejam debatidas à luz de iniciativas estruturantes de uma nova realidade. Não podemos mais conviver com as injustiças e as condições degradantes da vida e da dignidade das pessoas. A economia deve servir a vida”, frisou Paulo Garrido.
De acordo com ele, outras pandemias podem vir, e é preciso resolver os problemas estruturais com soluções não paliativas.
A vice-presidente da Asfoc, Mychelle Alves, também comentou sobre o impacto sofrido pelos trabalhadores com a Covid-19. Ela destacou ainda as reuniões semanais do Sindicato com o Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe), e outra, em especial, com o secretário de Gestão e Desempenho de Pessoas, Wagner Lenhart, para tratar sobre o funcionalismo público e a relação com o trabalho home office. A partir desta questão, a vice da Asfoc fez um recorte de gênero e raça.
“As mulheres passaram a ter atividades múltiplas com o teletrabalho. O trabalho doméstico aumentou e o cuidado com filhos e filhas também. Elas arcam com as duras consequências da pandemia. A maioria das profissões da saúde é exercida por mulheres, e lidam direta ou indiretamente com as consequências pandêmicas. Muitas mulheres também mantêm o sustento da família e chefiam seus lares. Nós já lidamos com a dupla jornada em tempos normais e isso se acentuou em tempos de pandemia. Ainda enfrentamos o machismo e a violência doméstica”.
De acordo com Mychelle Alves, as aulas em creches e escolas agravaram a tripla jornada feminina. Ela destacou o cuidado necessário com a saúde mental pela exaustão e ansiedade, e o trabalho desenvolvido pela da Cogepe nesta questão. “A pandemia afeta diretamente a produção acadêmica e laboral das mulheres mais que a dos homens. As mulheres negras são as mais afetadas na pandemia por estarem em condição de vulnerabilidade. Segundo o IBGE, 48% das mulheres negras exercem trabalho informal no Brasil. A população negra e pobre é a que está sendo mais afetada pela Covid 19”, acrescentou.
O pesquisador Luiz Claudio Meirelles, do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesth- Ensp Fiocruz) destacou que é importante pensar na saúde do trabalhador em um patamar mais elevado.
“Já víamos no mundo do trabalho com inúmeros ataques com a perda dos direitos dos trabalhadores. Infelizmente no Brasil com o coronavírus ele se tornou oportunizado para terminar de destruir essa rede de proteção. É lamentável que além da pandemia enfrentamos um cenário de perda até de legislação. A gente se vê num cenário nunca visto antes”, afirmou.
O sociólogo e pesquisador da Unicamp, Ricardo Antunes elogiou o trabalho sindical da Asfoc e comentou os desafios que o sindicalismo vive na situação de home office. “Há uma perda do espaço coletivo, com isso o sindicato perde sua força. Mas, na Fiocruz todos conhecem o Sindicato, por ser um traço importante dessa entidade. Onde sempre se respeitou a autonomia e a liberdade. É ali que se debate o que vai bem e o que não vai bem sob o olhar do trabalho”.
Antunes também ressaltou a importância do o papel da Fiocruz e do SUS.
“É importante destacar o papel da Instituição Pública nesta pandemia, se não fossem as instituições como a Fiocruz e o nosso SUS, nossa tragédia seria muito maior. Temos que defender a “res pública” ou seja, a coisa pública em meio a tanto desmonte”.
Depois acrescentou: “Não foi a pandemia que causou a tragédia que a gente vive, a pandemia amplifica essa tragédia em curso que existe de 1973 e que se acentuou em 2008 e 2009. A pandemia ocorre em meio a um pandemônio!”
O debate virtual contou com a participação da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima; da coordenadora-geral da Cogepe, Andréa da Luz Carvalho; do pesquisador Luiz Cláudio Meirelles (Cesteh/Ensp) e do sociólogo e professor da Unicamp, Ricardo Antunes; além da mediação do vice-presidente de Atenção e Promoção da Saúde, Marcos Menezes.
Clique no link e assista ao debate virtual na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=wGRL8GWf3hY&feature=youtu.be