A Asfoc-SN participou na tarde desta terça-feira (01/09) do debate “As condições de trabalho dos profissionais de saúde em tempos de pandemia”, em evento de comemoração aos 66 anos da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) Sergio Arouca. Durante a reunião virtual, o presidente Paulo Garrido afirmou que os sindicatos em todo o mundo estão na defensiva. Segundo ele, as entidades sindicais estão sob grande pressão de forças econômicas e políticas, principalmente após a pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
“A pandemia veio a se somar a uma série de crises em diversos campos. Enfrentamos o desemprego estrutural, a crise climática e ambiental; a emergência do extremismo agressivo da ultradireita; e o neoliberalismo, responsável direto por grande parte delas. Precisamos forjar a unidade dos trabalhadores e da sociedade civil contra as destrutivas políticas neoliberais”, destacou.
Para Paulinho, não há como apontar, no Brasil e no mundo, um único fator que indique melhora na qualidade de vida da população a partir da implementação do neoliberalismo. Para ele, é preciso lutar contra a precarização das relações trabalhistas.
“Precisamos lutar contra a privatização e a fragilização do serviço público. A economia deve servir a vida e não a vida servir a economia. Precisamos de unidade por igualdade de oportunidades e de condições dignas para todos. Precisamos construir alianças amplas se quisermos derrotar o neoliberalismo e o fascismo que ameaçam as sociedades em diversas partes do mundo. O neoliberalismo não ataca somente o Estado. Ele age contra a democracia”, frisou.
Paulo Garrido ressaltou que a pandemia mostrou que o rentismo e a divisão internacional do trabalho fragilizou o setor industrial no mundo todo. “Descobrimos a dependência da indústria chinesa. O rebaixamento de salários enfraqueceu os mercados internos de boa parte do mundo. Salários reduzidos fragilizam o poder de compra, gerando falência e desemprego. Os pobres estão voltando ao mapa da fome. Descobrimos que temos milhões de invisíveis. A classe média já não tem um futuro animador pela frente. Estamos vivendo sucessivas crises em todos os setores”, criticou.
Ele disse que esta é uma crise econômica e sanitária de longa duração. Por isso, é preciso responder a ambas com solidariedade e medidas estruturantes que incluem o protagonismo do Estado, com implementação de políticas públicas de garantia de renda, emprego, saúde, educação, moradia e segurança.
“Nessa linha, a Asfoc defende a imediata revogação da Emenda Constitucional 95. O abandono das políticas neoliberais. Investimentos públicos em saneamento, urbanização da comunidade, transportes, atenção primária em saúde como forma de atender ao quadro sanitário, melhorar a qualidade de vida da população e gerar empregos”.
Durante o evento virtual, o presidente da Asfoc falou ainda sobre as ações do Sindicato para fortalecer a luta dos trabalhadores e combater as crises sanitária e econômica. Citou o apoio às atividades emergenciais, como o fornecimento de cestas básicas para a população mais vulnerável, e aos Agentes Comunitários de Saúde, em parceria com o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes).
Ele ressaltou também as análises sobre os impactos das políticas neoliberais e da pandemia sobre os trabalhadores no livro “Saúde do Trabalhador em tempos de desconstrução: Caminhos de Luta e Resistência” – título provisório. O livro, parceria entre Asfoc e Cebes, é uma iniciativa a partir de demandas de discussões encaminhadas pela Comissão Intersetorial dos trabalhadores do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
O debate virtual contou ainda com os palestrantes: Maria Helena Machado, pesquisadora do Departamento de Administração em Saúde da Ensp; Jocélio Drummond, secretário regional da Internacional do Serviço Público (ISP); Alexandre Telles, presidente do Sindicato dos Médicos (Sindmed/RJ); José Antônio da Costa, presidente da Associação Nacional dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem (Anaten); Fernando Luiz de Mendonça, presidente do Sindicato dos Médicos (Sindmed/MG); além da coordenadora do debate e chefe do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde da Ensp, Márcia Teixeira.
Em sua fala, a pesquisadora Maria Helena Machado destacou a pesquisa da Ensp, sobre as “Condições de trabalho dos profissionais de saúde no contexto da Covid-19 no Brasil”, em parceria com diversas instituições e entidades, entre elas a Asfoc-SN. O estudo vai mostrar a realidade de cerca de 1 milhão de médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e fisioterapeutas que atuam na linha de frente no combate à doença provocada pelo novo coronavírus. O objetivo é compreender o ambiente e a jornada de atividade, o vínculo com a instituição, a vida do profissional na pré-pandemia e as consequências do atual processo de trabalho, envolvendo aspectos físicos, emocionais e psíquicos desse contingente de trabalhadores – clique no link para acessar a pesquisa (https://redcap.icict.fiocruz.br/surveys/?s=XDM37R9C9X).
Durante o debate, Maria Helena Machado elogiou os trabalhadores do serviço público e o Sistema Único de Saúde brasileiro. “São patrimônio do povo brasileiro”. Presidente da Anaten, José Antônio da Costa complementou a fala da colega. “O SUS, de fato, é patrimônio público da população brasileira, e a enfermagem também. Temos parcela de construção do SUS. Carregamos o SUS com muita perseverança e alegria”, acrescentou.
Presidente do Sindmed/RJ, Alexandre Telles também afirmou que a capacidade de resposta à Covid-19 se deu graças ao SUS. Ele ainda elogiou as entidades sindicais e criticou os retrocessos das políticas públicas. “Precarização de trabalho, falta de diálogo, de insumos e remédios, falta de EPIs, tudo isso colocou em risco a vida dos trabalhadores. Mas os sindicatos e associações tiveram papel fundamental para tentar minimizar esses danos na saúde dos trabalhadores”.
Presidente do Sindmed/MG, Fernando Luiz Mendonça disse que as condições de trabalho dos profissionais da saúde são muito graves, mesmo antes da pandemia. “Se não tivermos a capacidade de resistir, o cenário tende a ser ainda pior. Teremos outras epidemias, assim como outras no passado. E temos que aprender com as lições”.
Finalizando a apresentação, o secretário regional da ISP, Jocélio Drummond, questionou quem deve “pagar a conta” da reconstrução e da retomada do desenvolvimento econômico. E citou a Argentina como exemplo. “O país está apontando para a taxação da riqueza. Esse é o debate internacional. Temos que ter reformas fiscais progressivas, taxação das fortunas, principalmente das empresas transnacionais, que evadem dinheiro para paraísos fiscais em vez de pagar impostos”.