O Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN) manifesta seu descontentamento com as políticas públicas adotadas, ano após ano, por prefeitos e governadores no enfrentamento aos efeitos das fortes chuvas no Rio de Janeiro. No fim da tarde da última terça-feira (06/02), a cidade carioca foi assolada, mais uma vez, pelas consequências de um grande temporal, já característico do verão. O que se viu a partir daquele momento foram cenas que, infelizmente, se tornaram corriqueiras na história de nossa cidade: trabalhadores ilhados nas ruas, impedidos de retornarem para suas residências depois de mais um dia de trabalho; bolsões de água; inundações e deslizamentos de encostas que tragam pertences e vidas. Tudo isso afetando de maneira mais cruel e direta os segmentos sociais historicamente mais vulneráveis: moradores das favelas e morros cariocas, negros em sua maioria; crianças e idosos; população de rua, com nítido recorte de classe e raça.
Sendo este um fenômeno que se repete todos os anos, variando apenas em intensidade e extensão dos estragos e vidas perdidas, é possível acharmos que isso se dá apenas por conta de um fenômeno natural ao qual não podemos controlar em suas consequências? Essa parece ser a pergunta a ser respondida para que possamos superar esse ciclo de tragédias e perda de vidas. Temos que nos referir ao racismo ambiental, esse processo de discriminação que populações vulnerabilizadas e/ou marginalizadas compostas na sua maioria por negros sofrem com a degradação ambiental.
O processo de urbanização da cidade do Rio de Janeiro se deu de forma muita peculiar, com desvio de cursos de rios, fechamento de canais e rios, e um extenso processo de aterramentos do território carioca, com seus morros e rios que descem de suas encostas em direção ao mar e Baía de Guanabara ajudam a entender parte desse fenômeno. Também se destacam a ocupação deste território, ao menos desde o final do século XIX, com a canalização dos rios e a ocupação urbana de seus leitos alagadiços, os aterros nos mangues, mar e na Baía de Guanabara, a ocupação desordenada de diversas áreas pela falta de políticas habitacionais. Tudo isso contribuindo para entender o fenômeno em questão. Porém, todos esses elementos são de conhecimento das diversas autoridades públicas, em especial os prefeitos, que deveriam propor políticas públicas que mitigassem e superassem tal estado de coisas.
A cada grande chuva, com suas já descritas consequências, o prefeito de plantão na cidade do Rio de Janeiro vem a público lembrar que a quantidade de chuvas foi de tantos milímetros em curto espaço de tempo, significando em poucas horas o esperado de para um período muito maior. Falam de suas parcas ações que deveriam mitigar a questão, mas que são sempre insuficientes para realmente surtirem algum efeito. Culpam a população pelo excesso de lixo nas ruas, o que impediria o escoamento adequado das águas. Embora esses elementos possam compor o quadro mais geral, servem mesmo, na verdade, para justificar sua incompetência no real enfrentamento do problema.
A tudo isso se soma a crise climática que afeta o planeta e que vem causando mudanças dramáticas no clima em todo planeta. Uma dessas mudanças é a do regime das chuvas, com o aumento dos volumes concentrados em diversas regiões, como o que vem acontecendo em diversas regiões do país e particularmente na Região Sudeste. Com essas mudanças, aquilo que já era crítico em nossa cidade se torna ainda mais grave e as consequências potencialmente ainda mais trágicas.
É hora de pensar nas ações do poder público para enfrentar a questão com políticas de sustentabilidade que visem a segurança hídrica. Reconhecer que muito pouco foi feito de forma efetiva para enfrentar o problema. Que as autoridades municipais e estaduais se omitiram no enfrentamento da questão. Que a solução passa por políticas públicas efetivas em diversas áreas.
Em Assembleia Geral da Asfoc-SN na quinta-feira (09/02), trabalhadoras e trabalhadores da Fiocruz aprovaram, por unanimidade, a elaboração de um manifesto cobrando um posicionamento público das autoridades municipais e estaduais competentes, além da Fiocruz, sobre os avanços nas políticas públicas para o enfrentamento da questão.