Os palestrantes da live semanal da Asfoc-SN demostraram pessimismo em relação às condições de saúde dos trabalhadores brasileiros no futuro. As declarações foram feitas ontem (27/10) durante o painel “Saúde do Trabalhador”, com o pesquisador da Fiocruz Luiz Carlos Fadel, e as coordenadoras de Saúde do Trabalhador da Fundação (CST), Sônia Regina Gertner, e do Núcleo de Saúde do Trabalhador do Instituto Nacional de Infectologia (Nust/INI), Marisa Augusta de Oliveira.
Luiz Fadel comparou a saúde do trabalhador ao Holocausto. Relembrou uma frase utilizada nos campos de concentração da Alemanha nazista de Adolf Hitler para combater o desemprego: “O trabalho liberta”. “Pessoas entravam como se fossem trabalhar para serem libertadas e morriam na câmara de gás, e diversas formas cruéis e perversas”.
Para ele, a Reforma Trabalhista aprovada pelo governo Temer (2017) lembra a pré-nazista. “Vamos ter, em breve, uma pandemia muito maior que essa da Covid. Não tenho a menor dúvida que as pessoas vão adoecer do trabalho e morrer cada vez mais precocemente”.
O pesquisador afirmou que o trabalho é o centro do holocausto no Brasil, porque o País é pioneiro em fazer reformas (Trabalhista e Previdenciária) com o objetivo de retirar direitos dos trabalhadores. “Os jovens vão ser enfermos. Estamos criando uma horda de zumbis adoecidos pelo trabalho. Essa vai ser a verdadeira pandemia, o holocausto do século”.
Sônia Gertner atacou o decreto 10.530, publicado na última terça-feira (27/10). Assinado por Jair Bolsonaro, ela disse que o Sistema Único de Saúde (SUS) pode ser privatizado. “O presidente da República estabeleceu o Ministério da Economia como o grande negociador da Saúde na Atenção Básica (…). É um acinte a tudo que foi construído pela reforma sanitária na perspectiva do SUS. No Sistema Único de Saúde já existe a possibilidade de complementaridade pela saúde privada. Mas isso é o desmonte. É fortalecer a privatização da Saúde”.
Respondendo perguntas de internautas, a coordenadora falou sobre os prós e contras do home office/teletrabalho durante a pandemia: deslocamento sem enfrentar trânsito para chegar no trabalho, ganho de tempo com a família e economias de forma geral. “Mas quando a realidade chegou não era bem assim. O trabalho tem o lado do inferno e tem o lado bom, as relações sociais. O home office deixou com a gente só o inferno do trabalho. Trouxe o inferno para dentro de casa e perdemos essas relações”.
Marisa de Oliveira disse que não existe trabalho sem o trabalhador. Segundo ela, se o trabalhador não for acolhido minimamente e suas demandas não forem atendidas integralmente, não haverá trabalho. “O apoio que damos ao trabalhador (no Nust) reflete na sociedade e nos pacientes”.
Ela falou ainda sobre a atuação das Organizações Sociais (OSs) e de sua atuação junto aos agentes de saúde contratados na pandemia. Como exemplo, citou os problemas ocorridos nas OSs do Rio de Janeiro: péssimas condições de trabalho e salários atrasados. “Hospitais de campanha (administrados pelas OSs) não pagaram seus trabalhadores. É esse tipo de proposta indecente que é feito para os trabalhadores, e a gente se ilude achando que é uma proposta interessante, de flexibilização, de autonomia. (…) Só veio escrachar literalmente uma condição degradante e que só vem desmoronando de uma forma muito acelerada”.
O presidente da Asfoc-SN, Paulo Garrido, afirmou que os “governos míopes, totalmente incompetentes e equivocados, tratam a saúde apenas pela lógica econômica”. Paulinho também revelou o convite de diálogo recente do governo Federal, mas cobrou efetividade nas negociações e a retirada da Proposta de Emenda Constitucional 32/2020, que trata da Reforma Administrativa. “Foi colocada de forma autoritária, sem qualquer diálogo, no Congresso Nacional. O que está colocado na política neoliberal de governo é o Estado mínimo, a retirada direitos e a destruição de qualquer proteção social aos trabalhadores ativos e aposentados”.
A vice-presidente do Sindicato, Mychelle Alves, convocou os trabalhadores para assistirem ao evento coletivo do Dia do Servidor Público, hoje (28/10), às 19 horas – https://youtu.be/-vRFmUyLkV4. Promovido pela Asfoc-SN e Agência Servidores, o evento digital conta com a participação de diversos trabalhadores das carreiras públicas, dirigentes de instituições públicas e parlamentares, que vão homenagear os servidores e serviços públicos. Haverá ainda apresentação de corais de servidores e de mensagens pelo Dia do Servidor Público.
Na ocasião, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, será homenageada com o Prêmio Relevância. “Ela representa toda a força de trabalho da Fiocruz neste momento de pandemia, porque conduz a Instituição de forma exemplar”.
Mychelle relembrou as reuniões com a Mesa de Negociação Interna da Fiocruz durante a pandemia e as cobranças do Sindicato: a garantia de equipamentos de proteção individual e a testagem de toda força de trabalho da Fundação. A vice-presidente foi testemunha das ações desenvolvidas pela Fundação Oswaldo Cruz em prol da saúde pública e de seus trabalhadores. “Também tive Covid. Fiz o exame na Fiocruz e percebi como o acolhimento da equipe é fundamental. Fiquei muito emocionada, porque a gente trabalha pela saúde da população. Quando vemos a nossa Instituição nos acolhendo numa demanda de saúde, é um orgulho muito grande ser Fiocruz”.
Em relação ao home office e o teletrabalho na pandemia, Mychelle destacou a múltipla jornada diária feminina. “Há muitos relatos sobre aumento da carga de trabalho, principalmente para as mulheres. A gente tem uma carga emocional muito grande, e o home office duplicou, triplicou isso”, finalizou.
Confira a live na íntegra em: https://www.facebook.com/asfocsn/videos/635265743834177/